segunda-feira, 23 de março de 2015

Procura-se

Fiz um anúncio e pendurei na porta do meu coração:
Procura-se gente capaz de enxergar a vida com bons olhos. Não quero encontrar pessoas ''perfeitinhas'', burguesas, sem nenhum problema com o que esquentar a caixola; mas sim gente que apesar de todas as decepções que a vida faz questão de nos esfregar na cara, continue amando viver e nunca se deixe desistir da busca da felicidade. 
Procura-se gente de verdade. Ser de verdade é falar a verdade, viver e buscar a verdade. Estou farta de gente que finge ser feliz só para ter o que postar nas redes sociais, gente que gasta mais do que jamais conseguiria ganhar só para fazer uma média para os infelizes que chama de amigos. Gente que esconde lágrimas e finge amor, que não conhece o significado de ser honesto consigo mesmo! Nem ligo se você é branco, negro, amarelo, azul, sardento, gordo, magro, bonito, feio, gay, lésbica, punk, milionário ou sem-teto. Mas ligo muito se você não ''se vestir de si mesmo'' e enfrentar o mundo de cabeça erguida, sendo você mesmo, lutando pelos seus ideais e fazendo sua vida acontecer. 
Procura-se gente que ama. Quero conhecer somente quem ama a vida, a rua, a praça, os animais, a música, a natureza, o tempo e o vento. Gente que ama sorrir, que ama brincar, ama dançar, ama cantar, ama cair, levantar, subir, descer, beijar, abraçar, viajar e viver. Quero gente que transborde amor pelos poros. Gente que derrube amor pelas beiradas da alma e escorra sentimentos pelos cantos dos olhos.
Procura-se quem goste de sonhar. Nada é pior do que viver sem sonhos a não ser quem não gosta ou tenha medo de sonhar. Gosto de gente que sonha, flutua, mergulha de cabeça e imagina o mais belo verão da existência humana. Não tenho mais paciência com pessoas rasas, apáticas, de alma magra e sonho milimetrado. Gente de verdade sabe como transbordar!


 


sexta-feira, 13 de março de 2015

Nossa corrupção

Ultimamente, ainda mais do que antes, estamos escutando a todo o momento e em todos os lugares um bando de gente ‘’pregando o pau’’ na corrupção, escancarando a boca para dizer que todos os políticos são ladrões, ficam apontando os erros que fulano fez a dezenas de anos, repetindo as palavras de um, escangalhando um partido e defendendo outro e enumerando uma série de erros políticos que já não é de hoje que existem.
É claro que concordo que temos que ter senso crítico apurado, mente aberta, olhos observadores e principalmente que temos o direito e até o dever de cobrar e questionar um candidato. Mas será que somos assim tão santinhos quanto achamos? A maioria da população brasileira se sente no direito de sentar no sofá da sala e ficar xingando a política como se só ela fosse o problema e como se esta fosse a única fonte de corrupção. Mas eu pergunto: a corrupção existe apenas na política? E as ‘’pequenas corrupções’’ do nosso dia a dia devem ou não ser levadas em consideração?
Aposto que você, brasileiro, é do tipo que gosta de arrumar um jeitinho para tudo, contar uma mentirinha aqui, outra lá; roubar internet do vizinho, adulterar contas, falsificar carteirinha de estudante ou de aposentado, colar em provas, assinar o livro de ponto e não ir trabalhar, apresentar atestado médico falso, fingir que está doente para não cumprir com as obrigações, subornar guardas de trânsito e policiais porque não quer pagar multa e pagar pelo que fez de errado, não devolver o troco quando alguém te dá dinheiro a mais e as vezes até tentar pagar com menos, conseguir cargos ilegais e viver furando filas de bancos, lotéricas e até de postos de saúde. E agora, meu caro colega brasileiro, você não é corrupto?
E por falar em filas, lembro-me de quando fui prestar a prova teórica da autoescola e enquanto eu aguardava pacientemente na fila a minha vez de entrar na sala de aula, tive que praticamente lutar corpo a corpo com uma jovem senhora que insistia em me esmagar literalmente para passar na minha frente na fila. A mulher vinha como quem não quer nada e ia entrando na minha frente, tapando minha visão, pisando no meu pé e levemente ia se enfiando na minha frente, como se nada estivesse acontecendo e isso fosse muito normal. E quando o assunto é banco e lotéricas a história das filas vai muito mais longe. Quantas ‘’inocentes’’ mulheres não pegam no colo uma criança enorme de quase oito anos de idade só para passar na sua frente com a desculpa de que está com criança de colo?
A questão que quero abordar é que todo mundo gosta de criticar a política e a corrupção, mas não quer deixar de lado as pequenas corrupções do dia a dia e que sim, fazem toda a diferença na sua e na minha vida. A corrupção não começa na política. Ela existe acentuadamente lá, mas a origem dela é dentro de nós. A corrupção começa na nossa casa, na nossa mente e é de lá que temos que tirá-la antes de querermos modificar o que está do lado de fora.



quarta-feira, 11 de março de 2015

Pérolas negras

Uma vez, quando estudava no ensino médio, conheci um garoto com olhos de pérolas negras. E coincidentemente, depois que o conheci, a cor preta passou a me chamar mais atenção. Eram duas pérolas bem negras e bem brilhantes, dessas que ou cegam ou conquistam totalmente o coração da gente. E foi isso que elas fizeram comigo: cegaram-me. E como se não bastasse carregar duas jóias escuras no lugar dos olhos, ainda tinha uma pele bonita dessas que parecem uma folha de papel bem branquinha e lisinha recém saída de uma máquina e também era dono de lábios finos e vermelhos, belos como o adeus de um viajante. Ele todo era beleza e devaneios para o meu já cego ponto de vista. E para terminar o pacote da doçura, devo descrever como eram os cabelos que emolduravam e davam vida para tamanha riqueza. Eram cabelos tão negros quanto os olhos, ou melhor, as pérolas. Negros e espessos, desses que despertam aquela vontadezinha de colocar os cinco dedos de uma mão dentro e ficar apreciando, de forma tipicamente humana, a maciez desses protagonistas que se parecem mais com uma noite sem estrelas, nem luar.
Outro dia, dormindo para descansar das canseiras da vida, sonhei de madrugada com os olhos de pérolas que brilhavam só para mim, exclusivamente na minha direção. Brilhavam e chamavam por mim, como se quisessem dizer sem palavras alguma coisa que nunca fora dita no tempo certo. E eu fiquei ali tentando interpretar aquelas pérolas, inocentemente cega por aquele brilho misterioso. O sonho acabou quando acordei ainda meio flutuando em cima do lençol de nuvem e não me encontrei mais com brilhos de pérolas ou cabelos de noite sem luar esvoaçando em um vento calmo e morno. Acordei somente com um coração distante e um sonho que aos poucos ia se esvaindo, escapando pelos dedos da memória que já se preparava para as agitações da vida real.
O tempo passou e só posso dizer que as pérolas negras ainda aparecem, vez ou outra, em algum sonho por aí. Criei uma lenda: quando elas aparecem é porque o amor está no coração. Nunca me esqueci daquele brilho negro, afinal, jóias negras são sempre mais elegantes e raramente serão esquecidas.
Nunca na minha vida vi aqueles olhos brilharem só para mim, mas meus sonhos, esses privilegiados filhinhos de papai presenciaram essa cenas várias e várias vezes.
O tempo, às vezes amigo, às vezes cruel apagou um pouco o brilho daqueles olhos negros e os deixaram um tanto opacos. Algumas outras coisas também mudaram um pouco, acompanhando naturalmente o que a vida exige de nossa existência. Mas o que uma vez foi fotografado pela memória de uma garota jamais será revertido. As pérolas permanecem negras e ainda mais brilhantes, mas não como forma de atração. Hoje elas são apenas a lembrança que as cores e os brilhos são as tatuagens da memória.

 


quarta-feira, 4 de março de 2015

Religião versus Deus

Nasci e cresci em uma família evangélica. Mesmo não sendo aqueles fervorosos, sempre fomos adeptos de tudo o que a Palavra de Deus ensina. Desde criança fui ensinada a ir à igreja, ler a Bíblia, orar, temer e respeitar Aquele que acredito ser o criador de tudo o que existe. Na adolescência, senti vontade de ir um pouco mais a fundo e fiquei três anos e meio como obreira voluntária. Para quem não sabe, obreiro é aquele que ''faz a obra'', cuida da limpeza e da ordem da igreja, ora pelas pessoas, faz trabalho de evangelização e outras coisas, tudo sem receber nenhuma ajuda monetária, ou seja, é totalmente voluntário. Eu, além de ser obreira, participei por um tempo do grupo de louvor da igreja pois sempre gostei de tudo relacionado à música, principalmente de cantar. Passei por diversos sacrifícios e lutas para conseguir um lugarzinho nesse grupo, mas não é hoje que quero relatar minha experiência como obreira. Quem me conhece bem e há algum tempo, sabe perfeitamente bem que não foi uma das melhoras coisas que aconteceram na minha vida, mas prefiro deixar a parte ruim de lado.
O que realmente quero abordar neste texto é um dos assuntos mais chatos do universo perdendo apenas para a política. Sim, quero falar de religião. Bom, querer eu não quero. Mas estou sentindo uma pontada de vontade de abordar sobre esse tema ridículo que não deveria existir nem como tema e menos ainda como realidade. A religião tem cegado as pessoas e as transformado em meros fantoches! Ah, conta uma novidade? Pois é, eu sei que isso não é mais novidade e blá, blá, blá. Mas se é tão óbvio assim, por que ainda existe? Acabei de falar sobre minha crença em Deus e vou falar uma coisinha só para reiterar: crer em Deus é totalmente diferente de ser escravizado por uma religião ou doutrina religiosa. É uma diferença absurda. Eu diria que é o que separa os meninos dos homens ou as meninas da mulheres.
A Bíblia diz no livro de João que ''Deus é amor''. E todo mundo repete isso o tempo todo: ''Deus é amor'', ''Jesus te ama'' etc. Mas será que as pessoas realmente compreendem o que é ''ser amor''? O que mais nos deparamos no mundo é com pessoas que acreditam em castigos divinos e em um deus carrasco, ruim e que parece ter prazer no sofrimento alheio. A verdade é uma só: o que for plantado, será colhido um dia e isso a própria natureza é quem se encarrega de cuidar. Mas Deus, o criador, não é maléfico! Cá entre nós: com um deus desses em que muita gente acredita, nem precisaria existir diabo ou forças das trevas! Eu, sinceramente, não consigo imaginar que Deus seja um castigador de força maior, um ser que escraviza e doutrina maldosamente seus filhos. Para mim, Deus é pai.
Talvez pareça meio infantil da minha parte, mas eu acredito que Deus nos colocou no mundo para sermos felizes. Ele quer que sejamos felizes e eu quero acreditar nisso. Deus é amor de verdade e não paixão passageira. Ele não ia querer nos ver sofrendo, tristes, abatidos e escravizados, sendo que Ele é a própria misericórdia e liberdade. Por isso não me atenho a religiões. A religião é o maior motivo de discórdia, sofrimento e dúvida no ser humano. É ela que nos faz sentir medo de sermos nós mesmos e sermos castigados. Eu, no entanto, não acredito e não quero religiões. Mas eu acredito em um Deus que ama!


Obs: amo essa música!

Conhecimento imundo

Quanto menos se sabe da vida, mais feliz se é! Quanto menos se entende os mistérios e as teorias deste mundo, mais possibilidades há para o encontro da felicidade! A ignorância é vida, é luz, esperança que se atiça no fundo das almas mais puras e intocadas pelo sujo conhecimento. Saber demais é padecer no paraíso! Quanto mais se sabe, mais infeliz se é. Agora, quando não se tem compreensão das coisas do mundo e da vida, quando não se entende o fundamento, a necessidade e o decorrer de uma crise, tudo passa tranquilamente e nada nos atinge. Conhecimento, quase sempre resulta em desespero!
As vezes penso que gostaria de estar enfurnada no meio de um mato verde, descalça, usando um modelo de blusa de 2001, voltando com uma bacia nas costas após lavar no rio as roupas dos ''homens da casa''. Sinto inveja de quem não entende esse frenesi maluco que vivemos no mundo urbano. De quem não anda em ônibus e metrôs lotados, de quem acha que engarrafamento é só guardar algo em uma garrafa. Sinto inveja de onde o sinal da televisão não chega, onde o Jornal Nacional não entra, o Datena não tem voz e a crise não tem lugar. Bate todo dia, uma pontinha de inveja branca de quem não sabe a diferença entre PT e PSDB e ainda pode dormir na varanda de casa, sem se preocupar com ladrão. Dá ciúme de quem ainda acredita em assombração, tira aquele leite espumante da vaca todo dia de manhã, não precisa da luz da eletricidade para enxergar nitidamente a beleza da vida e das coisas simples.
O mesmo conhecimento que dá, também tira! Nosso conhecimento urbano, barato e sacana. Esse ''conhecimento'' que gosta de passar a perna nos outros, de tirar vantagem da fragilidade alheia. O ser humano está sujo... sujo de conhecimento! 
E só para deixar bem claro, não estou criticando ou condenando o conhecimento e o aprendizado, os quais, assim como tantas outras pessoas, luto para passar em sala de aula. Não passar no sentido de transmitir, mas no sentido de passar adiante e construir um resultado satisfatório. 
O conhecimento a que me refiro neste texto, é aquele que tira a paz, polui o coração e a mente, mancha as mãos e o caráter, provoca ganância, ilude a alma. Conhecimento arrogante, hipócrita, insolente e insípido. É deste conhecimento que provém as angústias, os roubos, as chantagens e as vitórias imundas. Por isso, defendo a ideia de que ser ignorante é ser feliz. A ignorância tem pureza nos olhos. A ignorância ainda cultiva a flor azul da esperança. Estar distante do conhecimento e evitar a sabedoria imunda garante a vitória sobre o universo.


É mensalão, mensalinho, ele é meu amigo, ele é meu padrinho. Na eleição prometeu, mas depois no seu bairro nunca apareceu!'' (Brothers of Brazil - Tudo pelo poder)



''Lá o tempo espera, lá é primavera. Portas e janelas ficam sempre abertas pra sorte entrar. Em todas as mesas pão, flores enfeitando os caminhos, os destinos, os vestidos e esta canção...'' (Marisa Monte - Vilarejo)

terça-feira, 3 de março de 2015

Quatro estrofes de amor

Necessito que teus beijos
Derramem desejos pelo caminho da minha alma.
Que meu corpo seja saciado
Com o mais quente dos teus calores.

Teus olhos me sorriem calados.
Doces e negras expressões de afeto e paixão.
Gosto dessa pele branca
Que faz a minha se arrepiar de emoção.

Lábios com gosto de alegria,
Beijos com cheiro de felicidade.
Você é todo delícias de viver
E eu sou toda vontade de você.

Peço licença para tomar em mim seu amor.
Mergulhar em teus braços protetores,
Deitar nesse colo quente
E me abrigar para sempre das dores do mundo.



segunda-feira, 2 de março de 2015

Mergulharei neste buraco

Tem dias que quero desaparecer
dentro de um enorme buraco negro 
que me leve para qualquer lugar.
Lugar de refúgio, de saída;
lugar novo, lugar meu.
O ser humano não é ser humano,
eu não sei quem sou,
não sei se quero descobrir,
não sei se quero decidir,
mas sei que quero fugir.
Eu e minha rima pobre,
andando por aí,
procurando um rumo,
perdendo o rumo,
engolindo o sumo.
Não quero ser despedaçada
por uma vida que não entendo,
por um sonho que não vendo.
Não me exijam lucidez
em um mundo de triste embriaguez
onde muitos perdem sua mesquinha vez.
Só quero descobrir um novo caminho,
me libertar desse carinho
que me prende ao que não tenho.
Com licença, estou mergulhando no  buraco...
não sei onde vou parar
e nem se vou voltar.
As vezes estar longe é se encontrar.