quarta-feira, 15 de abril de 2015

Falta

Sinto falta do que falta,
que talvez já tenha faltado
nas faltas do meu caminho.

Sinto falta do que faltou,
do que ainda falta
na falta que não percebi.

Sinto uma falta.
E essa falta, faz falta
mas não faz sentido!




terça-feira, 14 de abril de 2015

As pedras coloridas

‘’No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho’’
(Carlos Drummond de Andrade)

Quando eu era criança tinha o costume de procurar pedras coloridas nas areias que tinham em casa quando estávamos fazendo alguma reforma.  Eu me divertia por horas enfiando o braço e cavando a areia úmida até encontrar diversas pedras dos mais variados formatos e tamanhos. Quando conseguia juntar uma boa quantia de pedras, saia correndo pelo quintal a procura de minha mãe para lhe mostrar minha grande descoberta:
- Mãe, olha só, a areia está cheia de pedras preciosas!
Minha mãe, cheia de paciência com as minhas descobertas de todo dia, respondia:
- Não, filha! São apenas pedrinhas coloridas. Elas têm a cor diferente, mas só são pedras comuns. A maioria das areias possui várias dessas pedras!
E eu abaixava a cabeça e ficava olhando para as pequenas preciosidades na palma de minha mão com um olhar de tristeza. Saia de dentro de casa e ia de novo para a areia. Não podia ser verdade! Aquelas pedras eram preciosas, sim! Então, ficava sentada em cima da areia que já começava a cheirar coco de gato, pensando que minha mãe não entendia nada de pedras preciosas.
Então, eu entrava de novo dentro de casa, pegava um potinho e guardava com carinho todas aquelas pedrinhas. Para mim elas eram preciosas fosse a realidade essa ou não. Elas eram diferentes, nunca tinha visto pedras parecidas, portanto elas não podiam ser qualquer coisa!
Hoje, depois de crescida, sempre lembro esses episódios normais da infância e bate aquela saudade gostosa daquele tempinho onde tudo eram flores, ou melhor, pedras coloridas. Bate uma falta imensa daquela capacidade de enxergar beleza nas coisas simples da vida e saber encontrá-las nas coisas mais fáceis e corriqueiras. Perdemos tanto tempo de nossa existência para compreender que a felicidade não está apenas nos grandes acontecimentos. Ela está ali, quietinha, guardadinha em sua simplicidade, talvez no fundo da areia úmida do coração.
Decidi que quero ser como a menina que fui um dia: procurar minhas pedrinhas preciosas e guardá-las dentro de um potinho para nunca perdê-las. Quero encontrar minhas pequenas alegrias, aproveitá-las, curti-las e depois guardá-las dentro de um lugarzinho só meu para que eu nunca mais as perca de vista.
Quero ter olhos infantis para enxergar o valor das coisas simples e a beleza que ninguém parece perceber. É bom estar vivo! Mas ninguém parece mais notar a preciosidade da vida.



Coisas que chegaram ao fim...

Sempre fui do tipo ingênuo de pessoa que acredita que amizades verdadeiras duram para sempre. Quando temos afinidade com outra pessoa, sempre haverá uma ligação inexplicável que fará com que haja harmonia. Na adolescência, e mais ainda na época da escola, é normal que tenhamos muitos amigos e colegas. E também é normal que em algum momento da vida nos afastemos deles. A gente cresce e o tempo diminui. Tornamo-nos jovens adultos e temos que, inevitavelmente, dedicar muito tempo ao nosso trabalho, faculdade, pós graduação, relacionamento amoroso, afazeres domésticos e dependendo do caso, até filhos. Porém, eu sempre acreditei em uma coisa: relacionamentos de qualquer tipo, quando bem construídos, resistem as pressões do dia a dia e as pessoas envolvidas conseguem compreender que o tempo passou e a vida mudou. Na minha concepção, considero burrice permanecer agindo do mesmo jeito que se agia no passado. O tempo passa e pede mudanças de nossa parte, senão corremos o risco de ficar para trás na escada rolante do mundo. 
Onde eu gostaria de chegar com esse texto é na maneira como me sinto com relação a amizades que ficaram para trás. Ás vezes fico um pouco triste por algumas terem se afastado e terem se perdido no meio dessa correria que  é nossa vida atual. Tentei mantê-las, mas nada acontece quando o interesse não surge de ambas as partes. Tentei resgatar contato com aquelas que achei que talvez ainda valesse a pena, mas percebo que as coisas mudaram muito mais do que eu imaginava. Já tentei iniciar diálogos, mas percebo que as coisas não andam e eu nunca aceitei ser do tipo de pessoa que fica falando sozinha. Notei que algumas coisas realmente se perderam e seria uma tremenda imbecilidade da minha parte tentar, sozinha, resgatar o que há muito está entre escombros. 
Sinto uma grande pena por ter visto algumas coisas legais morrerem no decorrer do tempo, mas não me sinto mal porque tentei fazer o que foi possível para salvar, mas como diz aquele velho ditado sem graça: ''quando um não quer, dois não brigam''. 
Odeio a falsidade que as pessoas transmitem nas redes sociais. Curtem, comentam, compartilham suas coisas e aparentemente, parecem sentir um grande sentimento por você. Mas, na realidade, todos sabemos que a história é outra. As pessoas apenas querem saber da sua vida, sentem curiosidade por suas ações, relacionamento, trabalho e gostam de espionar através das redes sociais tudo aquilo que você deixar transparecer para o mundo. São raros aqueles que querem conversar, construir uma amizade e manter um interesse mutuo e sincero. 
O tempo fez com que eu ficasse com problema nos olhos: não consigo mais enxergar boas intenções nas pessoas, exceto algumas raras exceções. Não gostaria de ser assim, acredito que isso seja um grave defeito, mas percebo que o interesse nem sempre é sincero. Pode não ser por maldade, mas também não passa de mera curiosidade.
Fico um pouco triste por ter assistido minhas grandes amizades do passado se acabarem por causa de bosta, mas também fico feliz que o tempo tenha me trazido novas pessoas que aprendi a gostar muito mais do que imaginava. Tenho pessoas muito legais a minha volta e considero que elas sejam o suficiente. Nunca precisei de restos, deixo isso para os ratos que moram debaixo das pias das casas. Eu quero coisas inteiras!



segunda-feira, 13 de abril de 2015

Homenagem à poetisa Júlia Maria da Costa

Sonha e mente

Uma mulher com um fardo pesado,
inteligência aguçada,
beleza em olhos estrábicos
dos quais apenas se podem presumir
a direção para que tanto olham.

Uma menina que ainda não é mulher,
uma mulher que ainda é menina,
que sonha e que mente,
que voa, cai e levanta
na beira de uma praia.

Um homem bem mais velho,
um casarão enorme cheio de escravos,
festas, política e discussões,
não podem deixar feliz
um coração que nasceu para a sensibilidade
de uma paz discreta e com amor.

Sonha em poder amar um rosto pálido,
emoldurado por cabelos cacheados,
beijar mãos que são habilidosas no violão
que conseguiram tocar fundo seu coração.

Essa mulher só queria ter sido feliz,
ter dado uma chance a sua vida.
Queria ter aproveitado cada momento,
vivido de outra maneira,
tocado outras canções.

Não conheci essa mulher,
mas cegamente torci pela sua felicidade.
E até hoje, torço...
Para que em algum tempo,
em algum lugar perdido no espaço,
algum lugar secreto só para os apaixonados,
ela possa se perder
e mergulhar de cabeça
nos pequenos lábios que a seduziram.

E possa acariciar o  rosto branco de seus sonhos
e ser feliz para sempre deitada na areia de uma praia,
com o homem que ama,
vivendo de poesia.

Essa mulher que hoje é nome de rua,
que pouca gente sabe da história,
que até pouco tempo tinha o corpo sepultado
no centro de uma praça,
chama-se Júlia Maria da Costa,
poetisa da ilha de São Francisco.


Escrevi este poema em homenagem à poetisa Júlia Maria da Costa, uma mulher que fez com que eu me apaixonasse pela sua história. Em breve, aqui no blog, farei questão de publicar uma resenha com as minhas impressões sobre o livro ''Júlia'', um romance de Roberto Gomes, escrito em homenagem a esta grande mulher e também com algumas de minhas pesquisas sobre a vida desta poetisa, que quero que todos conheçam mais a fundo.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Atitude

Não sou de sentar,
esperar
e conformar!

Prefiro levantar da cadeira,
desenhar um novo caminho
e apreciar o que há de maravilhoso
em cada canto do mundo.

Sou movida a novos caminhos,
novas forças e novos ninhos.
Dispenso o conforto de uma espera qualquer
e desfruto meus direitos de mulher.

Os pés foram feitos para andar
e conhecer novos trajetos.
A língua foi feita para beijar
e falar novos dialetos.