sexta-feira, 26 de junho de 2015

Resenha - A hora da estrela de Clarice Lispector

Mas não sabia enfeitar a realidade. Para ela a realidade era demais para ser acreditada. Aliás a palavra ''realidade'' não lhe dizia nada. Nem a mim, por Deus.
E então, eu li ''A hora da estrela''. Já tinha tentando ler esse livro umas três vezes, mas por algum motivo, eu nunca conseguia ir até o fim. Parecia que a linguagem da Clarice, o dito cujo do eu-lírico e o enredo da história se misturava todo na minha cabeça e acabava em nada! Mas, um belo dia, decidi que iria terminar essa leitura querendo ou não. E estou surpresa, porque logo no comecinho já percebi que estava envolvida e que dessa vez eu iria mesmo até o final.  
Vou contar um segredinho, cá entre nós: não sou uma das maiores fãs da Clarice Lispector! Já li outros livros dela e não gostei nenhum pouco. Principalmente aquele tal de ''Laços de família''. Mas tenho curiosidade de ler muitos outros que ainda não adquiri! Bem, quem sou eu para falar que não curto muito uma escritora tão amada e aclamada pelos mais importantes críticos literários? Exatamente, não sou ninguém! Mas, como todo leitor, eu também tenho minhas preferências. Na verdade, acho que essa minha implicância com alguns livros da Clarice, é porque ela é demais para minha capacidade de raciocínio. Pois é. Clarice possui uma escrita muito reflexiva, introspectiva, que mexe nas feridas da alma, que chega ao mais profundo da miséria humana. E a linguagem dela também não é tão simples quanto esses trechos de efeito que o pessoal insiste em ficar postando e repostando nas redes sociais. Ela é uma escritora que vai muito, muito além de uma frasezinha com mil curtidas. 
E foi tudo isso e muito mais que eu vi com meus próprios olhos em ''A hora da estrela''. 
Esse livro conta a história de Macabéa. Uma moça de 19 anos, alagoana, órfã, com pouco estudo, apenas umas noções bem reles de datilografia, que decide tentar a vida no Rio de Janeiro após a morte da tia que era a sua única, maldosa, porém companheira. Ela passa a trabalhar como datilógrafa e a morar em um quarto de pensão junto com outras moças. O emprego vai mal! A moça não tem noções de higiene, escreve muito mal, erra muito e sempre suja os papéis com as suas mãos mal lavadas. O patrão, com pena do jeito simples da protagonista, acaba deixando que ela fique mais um pouco no emprego, embora tenha desejado despedi-la. Macabéa meio que odeia  a si mesma, não possui o menor rastro de autoestima, aprendeu a reprimir todos os seus impulsos, é virgem, suja, mal cheirosa, tem uma péssima alimentação, não sabe se expressar direito e é invisível, ou seja, ninguém nota sua existência. Até chegou a arrumar um namorado, mas as coisas vão de mal a pior. Além do mais, ele não tinha nada do ''bom moço'' que ela imaginava. A personalidade dele era meio psicopata, perigosa, questionável.
Enfim, é impossível descrever totalmente as características da protagonista. Macabéa é a personagem mais miserável que já conheci na literatura! 

Acredito que cada leitor possui uma interpretação diferente do livro e da protagonista. Mas para mim ele proporcionou diversas reflexões sobre a nossa própria existência humana, sobre como deve existir outras macabéas por aí e como as vezes, nós mesmos, nos deixamos ser Macabéa. É uma leitura rápida e curta, apesar de não ser muito simples, mas que recomendo muito para os que gostam de refletir sobre a pequenez da vida. 


O vídeo acima é o filme ''A hora da estrela''. E vale muito a pena assistir, porque é muito fiel ao livro. 

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